quarta-feira, 30 de setembro de 2020

The Last Door

Videte ne quis sciat.


      
       The Last Door é um jogo point-and-click episódico de terror, suspense e mistério desenvolvido por The Game Kitchen. Seu primeiro episódio foi lançado em março de 2013 para ser jogado em browser. Contendo quatro episódios episódios no total, uma edição de colecionador foi lançada em 2014 para Windows, Mac, Linux, Android e iOS, sendo publicada por Phoenix Online Publishing. Posteriormente, o jogo também foi lançado para Nintendo Switch, PlayStation 4 e Xbox One. Cada episódio tem uma duração média entre 45 a 90 minutos.

♧ Observações ♧

 

Na edição de colecionador lançada em 2014, estão incluídas oficialmente as línguas inglês, espanhol, catalão, alemão, francês, italiano, polaco e turco. No site oficial do jogo, pode-se também encontrar a versão em browser, que contém várias traduções feitas por fãs em mais línguas que as citadas. Entretanto, os episódios no site oficial não são iguais aos da edição de colecionador; esta contém vários conteúdos a mais. Portanto, os desenvolvedores recomendam jogar a edição de colecionador.

A Zero Corpse não tem qualquer intenção de traduzir The Last Door. Para mais informações, leia no Blacklist.

Esta análise se trata da primeira temporada (os primeiros quatro capítulos) da edição de colecionador para PC.

♧ Sinopse ♧




       Na Inglaterra Vitoriana, quando Jeremiah Devitt recebe uma carta de seu antigo colega de escola Anthony Beechworth com uma oculta, enigmática mensagem, ele sabe que algo está errado. Sua jornada para uma mansão abandonada é apenas o começo, quando ele começa a se lembrar de um segredo de sua juventude enterrado há muito tempo, descobrindo coisas que os homens não deveriam saber e abrindo portas que deveriam ter permanecido fechadas...

♧ Análise ♧


       Sendo um jogo point-and-click, a mecânica de The Last Door baseia-se em interagir com o cenário e seus objetos, coletar itens e aplicá-los no lugar e na hora certa. Tal sistema, entretanto, contém uma deficiência fundamental: torna-se cansativo e maçante rapidamente. Ao menos, a duração de cada episódio não é tão exorbitante, mas o jogo falhou em me prender e em me fazer sentir motivado até o fim (também por outros motivos, que cobrirei mais tarde nesta análise).

       Os puzzles têm uma dificuldade razoável. Não são muito difíceis, mas houvera momentos em que fiquei preso por bastante tempo até achar a resolução. Mesmo assim, eles têm lógica e são divertidos.


       A ambientação do jogo é impressionante: foram incontáveis as vezes em que senti arrepios e contrai-me por medo. Houvera momentos em que a tensão era tanta, que os arrepios se tornaram longos e seguidos. A escrita não é estupenda como em, por exemplo, The House in Fata Morgana, mas faz um trabalho decente para colaborar com o sentimento sinistro do jogo. A ambientação será comentada detalhadamente em etapas ao longo da análise.

♧ Artes Visuais ♧


       Logicamente, o que mais chama atenção em um jogo à primeira vista é a sua arte, e no caso de The Last Door, ela é especialmente intrigante e destaca-se em meio aos outros. Por ser pixelado, o visual tem um estilo único que cativa por sua simplicidade logo de cara.


       Além disso, foi uma estratégia inteligente para contribuir com o terror. Por ser simplista, a arte mostra ao jogador o que é necessário, o bruto dos acontecimentos, e isso por si só torna a experiência bem mais perturbadora, curiosamente. Por exemplo, nenhuma personagem tem expressão facial, os rostos são representados apenas por alguns pixels da cor da pele delas. Dessa forma, quando algo surpreendente, grotesco ou sombrio acontece, não há nenhuma reação dos presentes na cena. O jogador encara apenas o vazio sombroso de seus rostos, como se nem estivessem ali.

       Por essas razões, a arte de The Last Door é genial. Cativante, intrigante e sombria.

♧ Trilha Sonora ♧





       Outro ponto extremamente positivo que foi fundamental na imersão à atmosfera foi a trilha sonora original. Composta por Carlos Viola, ela é formada por diversos instrumentos clássicos, que deixam as cenas mais sinistras, macabras ou desesperadoras. Ainda mais para mim, amante de música clássica, são simplesmente composições maravilhosas, prazerosas de escutar ao longo do jogo.




       Além disso, os efeitos sonoros são colocados de forma inteligente para intensificarem sustos e outros sentimentos. Por exemplo, em diversas ocasiões em que algo surpreendente aparecesse na tela, tal viria junto com algumas notas de piano, de forma a intensificar a reação causada no jogador. Barulhos diversos como de animais, pessoas ou objetos também são muito bem colocados para contribuir com a atmosfera de cada cena.

       Assim, a trilha sonora não só contém músicas maravilhosas, como também sons bem colocados e alia-se às artes visuais para criar a estética única e genial de The Last Door. Agora, além da ambientação, chegou a hora de falar sobre sua essência e seu conteúdo.
 

♧ História ♧


       A história de The Last Door pretende ser enigmática e instigante, mas, infelizmente, nem tudo são flores. Ela é bem simples, o que não é um problema por si só, mas falha em cativar por simplesmente não ser interessante o suficiente. Ela estava me prendendo durante os primeiros capítulos, mas depois de certo ponto, parou de me deixar curioso e tornou-se decepcionante. A narrativa não é ruim; ela tem boas ideias, é coesa e bem estruturada, mas não é bem desenvolvida. No fim, acabou sendo um desperdício, mais ainda considerando os diversos elementos presentes no universo do jogo que vamos conhecendo aos poucos, mas que não foram bem utilizados.


       Parte desse problema é derivado do fato de eu estar falando apenas da primeira temporada, ou seja, ainda há mais quatro capítulos para experienciar, presentes na segunda. Mas devo admitir que esses primeiros quatro capítulos não me deixaram curioso ou tentado a desvendar os mistérios da história o mais rápido possível. Inclusive, confesso que demorei bastante tempo para terminar o jogo, já que ele falhou em me prender.


       Os temas tratados em The Last Door são sombrios. O misticismo é foco, ou seja, aquilo que há além do que os homens podem ver. Além disso, há diversas personagens com diferentes problemas mentais que são apresentadas muito bem ao longo da narrativa e em seu universo, complementando o clima sombrio. Um tema que se destacou por trazer momentos e questionamentos interessantes foi a religião, que também é central durante a história.

       As personagens que encontramos pelo universo do jogo são caracterizadas belamente; em geral, cada uma tem um aspecto interessante que as distinguem dos demais. Assim, personagens menos importantes tornam-se por vezes mais interessantes que as próprias personagens principais. Houve certa falta de caracterização e de personalidade de algumas personagens cruciais, o que me incomodou. Simultaneamente, um destaque positivo foi o desenvolvimento do personagem principal, Devitt, com o qual desenvolvi uma ligação bem forte ao descobrir seu passado aos poucos e de forma misteriosa.


♧ Influências Literárias ♧


       The Last Door utiliza diversos elementos sobrenaturais e fantásticos, sendo considerado por alguns jogadores um tributo a H. P. Lovecraft. Lovecraft é um escritor americano que revolucionou o gênero terror e incrementou-lhe componentes característicos da fantasia e da ficção científica. De fato, esses dois gêneros são retratados belamente em The Last Door e são incrementados na resolução dos puzzles de forma criativa e emocionante.

H. P. Lovecraft

       O jogo também se inspira no autor Edgar Allan Poe, um escritor estadunidense do movimento literário romântico. As histórias de Poe são macabras e envolvem ficção científica, sendo notável que um de seus mais famosos livros se chame "O Corvo". Todas essas características remetem a The Last Door. O Romantismo foi uma era de intensos sentimentalismo e fantasia, características que podem ser vistas no jogo, mas, pessoalmente, diria que ele se assemelha mais a outro movimento literário.

Edgar Allan Poe

       Esse seria o movimento simbolista, que surgiu na França no fim do século XIX e com o qual The Last Door compartilha muitas particularidades. O Simbolismo se baseia em símbolos e representações na construção do sentido da obra. Ou seja, ao invés de descrever a realidade de forma objetiva, usa-se metáforas e “símbolos” para descrevê-la subjetivamente. Tal estratégia também é usada em The Last Door. Porque os acontecimentos são vistos através dos olhos do protagonista, as memórias e os sentimentos dele contribuem na apresentação dos fatos, tornando a narrativa subjetiva e metafórica.



       O jogo compartilha diversos temas centrais com o movimento simbolista: a metafísica, o misticismo e o conceito de que a vida na Terra significa o aprisionamento da alma, como se o corpo humano fosse uma prisão.  Além disso, um exemplo de simbologia clara é a dos corvos, que aparecem frequentemente na história. Além da conotação negativa atribuída a esses animais frequentemente pela cultura popular, há também outros pontos de vista. No ocultismo, corvos são símbolos de mensageiros e da transição entre o mundo em que vivemos e o mundo oculto, o que é muito coerente com o jogo em si.

♧ Conclusão ♧



       The Last Door é um tanto popular e eu estava bastante animado para jogá-lo, mas devo dizer que não é perfeito como muitos dizem. A estética é certamente seu ponto forte: ele apresenta um estilo de arte genial, uma trilha sonora incrível e o gênero de terror é muito bem trabalhado, mas é um jogo de pouca essência e substância. Uma daquelas obras que tenta ser profunda e filosófica, mas acaba sendo rasa e superficial. Ou que tenta ser simples e bela, mas acaba sendo simples demais. De qualquer forma, foi um desperdício. Se os criadores tivessem trabalhado melhor com os assuntos que trouxeram, teria sido uma experiência mais completa e prazerosa. Mesmo assim, eu a recomendo para vocês, especialmente se gostarem de puzzles e point-and-click. Embora tenha sido um pouco decepcionante em alguns aspectos, foi uma experiência divertida (e aterrorizante) que valeu a pena.

Nota: 8/10


Fiquem seguros, queridos. Atualmente, é preciso ter mais cuidado.

-Yakatsu

16 comentários:

  1. Respostas
    1. Hihi, é um jogo ótimo nesse quesito. Fiquei tenso o tempo inteiro jogando x.x

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  2. EEEEEEE, mas uma review, tava com saudades!

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  3. QwQ incrível, misterioso, incomodo, porém excitante.
    -_- esperei tanto tempo por algo nesse site fico feliz que estejam bem, ............ Aguardando mais contos de terror e é claro jogos :D

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    1. Fico feliz que tenha gostado!
      Sim, felizmente, fico alegre em dizer que nós estamos bem melhores para adicionar mais conteúdo à Zero Corpse :D

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  4. aaaah, to tão feliz que vocês voltaram a ativa, acompanho vocês desde 2014, achei que tinha acabado por vcs terem ficado quase 1 ano sem postar...

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    1. Nós ficamos em hiato por causa da quarentena e de problemas pessoais da equipe. Mas felizmente estamos de volta! :D

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  5. amo tanto esse site, acompanho e baixo jogos aqui desde os meus 13 anos, hoje tenho 20 e continuo amando esse mundo de joguinhos indie de terror e sempre visito o site pra matar a saudade

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    1. Hehe, fico feliz por você gostar da Zero Corpse! Também fui fã desde muito muito novo.

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  6. Adorei o post!! O design me lembrou um pouco de Count Lucanor, me deixou até com vontade de jogar de novo.
    Espero q esteja tudo indo bem com vcs ;)

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